sexta-feira, 29 de maio de 2020

ARCO TRIUNFAL DE NOSSA SENHORA DE FÁTIMA


O marco da devoção da Virgem do Rosário em Ipueiras



 Imagem 1: Arco de N. Sra. de Fátima (Paulo Ermeson Araújo)

A magnífica visita da Imagem Peregrina vinda de Fátima, Portugal para peregrinar em terras brasileiras no ano de 1953, marcou para sempre a vida de fé do povo de Ipueiras por ocasião da sua passagem em 08 e 09 de novembro do supracitado ano. O marcante evento motivou os católicos para a construção de um arco em memória do acontecido. Feito em madeira, veio abaixo com as chuvas no ano de 1954.

Insatisfeitos com o ocorrido, os ipueirenses trataram de planejar nova obra, desta vez de alvenaria, para eternizar a alegria e a lembrança daquela visita marcante. Foi contratado para a construção do novo arco o arquiteto prático sobralense Pedro Frutuoso do Vale (1891-1974), cujas obras já eram conhecidas na região. Foram então constituídos grupos que eram representados por cores (estes grupos também tinham certa conotação política, pois 1954 e 1955 eram anos eleitorais) e assim foram planejadas atividades para angariar recursos em vista da construção. Cada grupo tinha a sua candidata à “Rainha de Fátima”, cuja vencedora teria toda a pompa e homenagens por ocasião da inauguração do Arco. Venceu a senhorita Elisa Maria Mourão, filha de Francisco Soares Mourão e Francisca Netária Mourão. 

Imagem 2: Pedro Frutuoso do Vale (do livro Sociedade Sobralense, de Arnaud Cavalcante)


Imagem 3: Detalhe em um dos paineis do Arco com o nome do construtor e o ano. (Arquivo do autor)


Para a inauguração do monumento uma grande festa foi planejada. Agendou-se para o dia 29 de maio de 1955, um domingo, a celebração solene. Sobre este evento, o Pe. Francisco Correia Lima registra no Livro de Tombo da Paróquia que “os jornais de Fortaleza falaram bastante”. Entretanto o saudoso sacerdote registra somente o “Convite-Programa” daquele evento e uma reportagem do jornal Correio da Semana de Sobral, de autoria do Pe. Marconi Freire Montezuma. Transcrevemos abaixo o referido convite programa conforme se acha no Livro de Tombo da Paróquia de Ipueiras:

Convite-Programa
Solicitamos das pessoas convidas, das autoridades locais e do povo em geral, desta Paróquia, comparecerem a estas solenidades, no dia 29 de maio.
O Pároco, Pe. Francisco Correia Lima

Horário das Solenidades
Dia 29 de Maio
5hs – Salva de 21 Tiros, sob o Arco Triunfal.
5½hs – Missa na Igreja Matriz e Comunhão Geral.
8hs – Missa Campal, sob o Arco Triunfal de Nossa Senhora de Fátima.
12hs – Do avião pilôtado pelo Revmo. Pe. José Palhano de Saboia, uma chuva de rosas, sôbre a imagem de Nossa Senhora.
17hs – Passeio da “Rainha de Fátima” e suas oito Damas, eleitas para coroarem N. S. de Fátima, o qual será realizado em carro aberto, pelas ruas e praças desta cidade, ao sôm da Banda de Música de Sobral.
19hs – Inauguração e Benção do Arco, pelo Exmo. e Rvmo. Sr. Bispo Diocesano, D. José Tupinambá da Frota. Discurso pelo Revmo. Pe. Francisco Soares Leitão.
19½hs – Entrada triunfal de S. Majestade a “Rainha de Fátima” (Senhorita Maria Elisa Mourão), com o seu cortejo, no recinto do arco. Coroação da “Rainha de Fátima” pelo Exmo. e Revmo. Sr. Bispo. Discurso pelo Exmo. Sr. Dr. Promotor de Justiça Kideniro Stefeson Teixeira.
20hs – Coroação de Nossa Senhora pela “Rainha de Fátima”. Discurso pelo Exmo. Sr. Dr. Juiz de Direito Jerôncio Brigido Neto.

Contou-nos dona Elisa Mourão em entrevista realizada no dia 26/06/2016 em Ipueiras:

Estudava no Colégio Santana. Aí eu vim, ainda me lembro que eu vim até com uma roupa assim branca, tipo de uma farda mais de gala. Aí cheguei na estação, vinha de trem. Aí tavam me esperando com banda de música, cheio de gente, de carro. Aí eu vim acho que foi num carro aberto, da estação.

Ao ser indagada sobre o porquê da sua escolha como “Rainha de Fátima” ela respondeu:

Nessa campanha que foi feita pra aquisição de dinheiro pra construção do Arco, foram os partidos. Eu era a representante do partido [...] azul e outra do partido encarnado. Aí era pelo valor que fosse arrecadado, quem mais arrecadasse dinheiro era eleita, considerada a rainha. [...] Aí de acordo com a arrecadação das outras vinha as duas princesas [...].

 Imagem 4: Rainha de Fátima com suas princesas e damas, 1955. (Facebook Ipueiras Memória)

Terminada a campanha, para a solenidade de inauguração foram eleitas a Rainha, duas Princesas e seis Damas, a saber:
RAINHA: Elisa Maria Melo Mourão
PRINCESAS: Miraugusta Campos Farias e Solange Rosa de Sousa
DAMAS: Maria Aglaê Bonfim Medeiros, Cristina Alves de Sousa, Ruth Moreira Frota, Adelaide Marques Cavalcante, Ivone Holanda e Nazaré Belém Lima.

Sob o Arco, estão afixadas duas placas. A primeira é uma homenagem do pároco e do povo à Nossa Senhora de Fátima e o seu teor é o seguinte: “O pároco e o povo de Ipueiras prestam filial homenagem de amor e de gratidão a Nossa Senhora de Fátima, comemorando a data inolvidável da visita da Imagem Peregrina a esta cidade. 08-11-1953. O Pároco Pe. Francisco Correia Lima”. A segunda é um despacho favorável do Bispo Diocesano, D. José Tupinambá da Frota (1882-1959) ao pedido do Pe. Correia de que fosse concedida indulgência de 100 dias aos que devotamente rezassem ao passar pelo monumento no dia 08 de cada mês, cujo teor é o seguinte: “A todas as pessoas que, passando pelo arco triunphal de Nossa Senhora de Fátima, na cidade de Ipueiras rezarem uma Ave Maria seguida da jaculatória ‘Nossa Senhora de Fátima rogai por nós’, concedemos 100 dias de indulgencias. Sobral, 30 de março de 1954. + José, Bispo Diocesano”.

 Imagem 5: Uma das placas fixadas no Arco. (Arquivo do autor)

 Imagem 6: Arco em data desconhecida (IBGE)

O Arco de Nossa Senhora de Fátima fica localizado à Rua Vicente Ferreira Lima, no centro de Ipueiras. É um marco de fé para todos os munícipes que sempre vão ali para fazer suas súplicas a Deus, pedindo a intercessão de Nossa Senhora de Fátima. São tradicionais as novenas do mês de Maio ali celebradas e em especial no dia 13 do dito mês acontece bonita celebração da Santa Missa em memória da Virgem Maria. As procissões que se realizam em Ipueiras tem mais alegria e solenidade quando tem em seu percurso o Arco, assim como é roteiro dos funerais dos fiéis devotos que, em vida, ali veneraram a Senhora do Rosário de Fátima.

 Imagem 7: Arco de N. Sra. de Fátima em julho de 1983 (IBGE)

Nas visitas subsequentes a de 1953, o Arco foi novamente palco de grandes demonstrações de fé: a Segunda Visita aconteceu de 15 a 24 de agosto de 2003, sendo o pároco Pe. Eliésio dos Santos e o Bispo Diocesano D. Jacinto Furtado de Brito Sobrinho, e foi afixada nova placa comemorativa; a Terceira Visita se deu entre 27 de maio e 01 de junho de 2015, sendo o pároco Pe. Francisco Genival de Sousa e o Bispo Diocesano D. Ailton Menegussi, e foi afixada outra placa comemorativa.

 Imagem 8: Placa comemorativa da 3ª Visita, 2015. (Arquivo do autor)

O escritor, professor e poeta José Costa Matos (1927-2009), compôs uma música por ocasião da Segunda Visita da Imagem de Fátima à Ipueiras que tornou-se verdadeiro hino de louvor e gratidão também na Terceira Visita de Nossa Senhora de Fátima, tendo sido entoado inúmeras vezes em ambas visitas. Com as mais respeitosas vênias aqui citamos a composição do poeta ipueirense:

Mil novecentos e cinquenta e três,
A oito de novembro era domingo.
Ipueiras discursa e se ilumina,
Ao hospedar a Imagem Peregrina,
De Nossa Senhora de Fátima.

Um mudo grita: “Viva a Mãe de Deus!”
E abala a alma de pedra dos ateus.
As conversões são tantas e tudo isto,
Para a glória maior de Jesus Cristo.
Outros milagres, curas de cegueiras.

E hoje a Mãe volta, vem de Portugal.
E a senhora de Fátima recebe
Este Salve Maria de Ipueiras,
Na glória do seu Arco Triunfal,
Na glória do seu Arco Triunfal.

Em 13 de maio de 2017, por ocasião do Centenário das Aparições de Nossa Senhora em Fátima, a Paróquia de Ipueiras celebrou a data com efusiva alegria, fazendo uma procissão partindo do Arco Triunfal em direção ao Parque da Cidade, onde foi celebrada uma Missa campal presidida pelo Pe. Herbert Ferreira de Morais.

O majestoso, belo e artístico Arco de Nossa Senhora, cobre de fé e bênçãos a cidade de Ipueiras.

Marcos Augusto de Freitas Costa
Licenciado em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA. Pós graduando em Ensino de Filosofia e Sociologia pela Faculdade Venda Nova do Imigrante - FAVENI. Agente de Pastoral na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Ipueiras/CE.


FONTES:
Facebook Ipueiras Memória. Disponível em: https://www.facebook.com/profile.php?id=100006863509053&lst=100003890318280%3A100006863509053%3A1590795576&sk=timeline. Acesso em 29 de maio de 2020.
IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/ce/ipueiras/historico. Acesso em 29 de maio de 2020.
Livro de Tombo da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, nº 2. Ipueiras, 1955.
Maria Elisa Mourão Pereira. Entrevista realizada em 26 de junho de 2016. Ipueiras-CE. Arquivo do autor.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
CAVALCANTE, Arnaud de Holanda. Sociedade Sobralense. 2ª Ed. Sobral: Sobral Gráfica, 2018.

sexta-feira, 8 de março de 2019

SOU FELIZ PORQUE NECESSITO DE TÃO POUCO



É preciso sair da floresta do consumismo com os próprios pés, e não porque os outros nos obrigam a sair

Frei Patrício Sciadini, OCD
Fiz uma pequena viagem à Espanha e Itália, na busca de ajuda para nossas obras no Egito. Temos dois hospitais e uma pequena escola – é a única maneira, neste país, para poder evangelizar e fazer o bem, dando assim testemunho do nosso ser cristão.

Mas as nossas obras devem ser as melhores. Os pobres merecem o melhor; seja no atendimento, seja na acolhida, devem sentir em todos os momentos que os amamos de verdade. Aos pobres não se pode jamais dar o que não serve, o que é supérfluo, mas aquilo que nos faz falta.

Quando damos com amor nada nos faz falta, tudo sobra. Assim é Deus conosco: ele doa e nunca lhe faz falta o que doa. Perdi a minha mala e fiquei sem nada. E me senti feliz em poder experimentar que é necessário tão pouco para ser feliz. Uma camisa emprestada, uma calça dada por alguém que tem meu tamanho, um sabonete sempre se encontra e, visto que tenho barba, não necessito de gilete.

Nesta situação, dá pra meditar e encontrei o segredo da felicidade. Queria compartilhar com os meus vinte e cinco leitores este segredo, e pode ser que eles não concordem comigo e, que digam besteiras, mas sei que serei perdoado.

Hoje nós somos dominados pela economia, pelo ter sempre mais e mais. E isto nos dá uma ânsia terrível. Quando nos falta alguma coisa, nos encontramos como perdidos, sem saber o que fazer. A felicidade consiste em saber viver não procurando ganhar sempre mais, nem trabalhar sempre para poder gastar mais. Trabalhar mais para comprar mais, e por aí vai. É um círculo, que não sei se é vicioso, mas que nos estrangula e sufoca de todo lado. Perdemos a liberdade de contentar-nos com o pouco que é suficiente.

Para que ter vários pares de sapato quando nunca é possível usá-los ao mesmo tempo, porque temos somente dois pés? Para que ter vinte canetas quando se escreve com uma só? E para que desejar três telefones celulares quando se usa um por vez?

É preciso sair desta floresta do consumismo com os próprios pés, e não porque os outros nos obrigam a sair. Somente assim podemos compreender o texto do Evangelho. Meditei bastante o texto do Evangelho de Mateus 6, 28: “Olhai os lírios do campo e as aves do céu..., não semeiam, não fiam, não tecem, o Pai cuida deles”.

Jesus veio para nos ensinar uma coisa simples, transparente: não acumulem tesouros sobre a terra, que a ferrugem pode corroer; é para acumular tesouros no céu, onda a ferrugem não chega. Passei um tempo na escuta dos outros, dando espaço às palavras, e vendo com os olhos do coração o mundo ao meu redor, e compreendi que a infelicidade não está em não ter, mas em ter demasiado. Se cada um tomar consciência do necessário e repartir com os que não têm, encontrará a felicidade.

Dizia-me uma pessoa: “Estou feliz porque agora trabalho meio período”. E eu respondi: “Quem bom! Assim você pode descansar”. Ele me respondeu: “Descansar nada! Assim posso ter outro trabalho e ganhar mais para comprar mais coisas”. Moral da história: era feliz porque trabalharia mais.

Sou feliz porque me esforço cada dia em poder viver com pouco e ver se ajudo os outros a terem o pouco necessário para serem felizes. Por isso decidi não dar coisas inúteis de presente, mas somente coisas úteis, e que vejo que eles não têm. Só através da nova cultura de quem diz “não” ao luxo, ao supérfluo, e diz “sim” somente ao necessário, podemos encontrar a comunhão da felicidade e da alegria.

Penso na casa de Nazaré, onde havia pouco de coisas, mas havia muito de Deus e de felicidade.


Fonte: Jornal O Lutador, Ed. nº 3848 – 1 a 10 de setembro de 2014