Traços
de um padre diferente e um deputado combativo
“Venera a
memória dos heróis beneméritos.”
(Pitágoras)
Francisco
da Mota de Souza Angelim nasceu em Arneiroz em 1828, filho de Inácio Ferreira
da Mota e Ana Ferreira da Mota. Segundo Hugo Catunda Fontenele, era “natural de
Marruás (Inhamuns)”. Em 1849 foi nomeado coadjuntor da Freguesia de São Mateus
(Jucás) permanecendo ali até 1851 quando o Visitador, Pe. Antonio Pinto de
Mendonça, o suspende de ordens por desobediência. Era dotado de gênio impulsivo
e tendo se envolvido em várias querelas chegou a ser preso. Esteve sempre
presente em atos públicos na região dos Inhamuns, tendo-se notícias suas, por
exemplo, no envio dos “Voluntários da Pátria” para a Guerra do Paraguai em
junho de 1865 na Vila do Tauá por meio do Jornal O Cearense. Sabe-se ainda que
tinha uma clavícula fraturada devido uma queda de cavalo. Elegeu-se Deputado
Provincial no biênio 1882-1883 com 203 votos pelo 4º Distrito. A Vila do Ipu
foi onde obteve maior votação: 81 votos, certamente dado o seu conhecimento e
proximidade com os eleitores da região, bem como sua residência fixada em
Ipueiras que era povoado ligado ao Ipu.
Como
sacerdote pouco se sabe a seu respeito, apesar do título eclesiástico identificá-lo
até o fim da vida. Certamente por seu caráter impulsivo e agitado, era tido como desobediente e teve o
uso de ordens suspenso. Não foi o primeiro vigário de Ipueiras, mas certamente
foi o primeiro sacerdote a residir no que hoje corresponde ao aglomerado urbano
da cidade. Foi contemporâneo do Pe. Francisco Corrêa de Carvalho e Silva
(1814-1881) e do Pe. João José de Castro (1847-1893), este primeiro como
vigário Freguesia da Matriz de São Gonçalo e residente no Ipu e este último
como primeiro vigário da Freguesia de São Sebastião de Ipu. Há inclusive relato
de visita do dito Vigário do Ipu à residência do Pe. Angelim por ocasião da
festa da padroeira de Ipueiras no ano de 1882.
Sobre
sua permanência em Ipueiras, o incansável pesquisador Hugo Catunda atesta que o
progresso da povoação se deve à vinda do Pe. Angelim que ali fixou residência
em 1867. Era um homem inteligente, enérgico e empreendedor e como político agia
de forma bastante combativa. Por seu impulso e patrocínio foram construídas
casas de melhor porte e abriram-se repartições comerciais na pequena povoação
que, por seu zelo, foi aos poucos sendo preparada para se tornar sede de vila. Vencendo
as mais difíceis investidas de seus adversários políticos, inclusive do próprio
povoado (a este respeito os jornais aos quais tivemos acesso contém alguns
relatos de suas divergências político-partidárias), conseguiu a aprovação dos seus
dois projetos que se tornaram as Leis Provinciais nº 2.036 e nº 2.037, que
criaram a Município e a Paróquia em 25 de outubro de 1883 e a em 27 de outubro
do mesmo ano, respectivamente. Sendo esta última solenemente instalada em 06 de
julho do ano seguinte.
Concluindo
sua vida terrena, recebeu os últimos Sacramentos da Igreja pelas mãos do recém
chegado primeiro Vigário de Ipueiras, o Pe. João Dantas Ferreira Lima. Uma
afecção renal já o prostrara há alguns meses e na tarde do dia 18 de julho de
1884, entrega sua alma a Deus, sendo sepultado na Igreja Matriz de Ipueiras.
Em
18 de julho de 1933, no 49º aniversário de seu falecimento, após a solene Missa
Exequial o vigário de Ipueiras Pe. Francisco Felippe Fontenelle, fez o
translado dos restos mortais do benemérito Pe. Angelim que haviam sido exumados
para este fim. O túmulo antigo que ficava entre os dois altares laterais foi
transferido para a segunda pilastra à direita da porta principal, onde ainda
hoje se encontra.
A
cidade de Ipueiras dedica ao nome do Padre Angelim a principal e mais
movimentada rua da cidade, bem como, uma escola municipal de ensino fundamental
(onde concluímos o ensino fundamental). Existe na Praça da Igreja Matriz um
busto em sua homenagem que, infelizmente, não se acha devidamente identificado.
Certamente
muito ainda resta a ser escrito, pesquisado e dito sobre esta figura icônica da
história ipueirense. Aqui, registramos uma pequena e singela contribuição, na
esperança de que fomente os presentes e os que nos sucederão na escrita, no
amor e no compromisso com a História.
FONTES
Biografia do Pe.
Corrêa. Disponível em: http://professorfranciscomello.blogspot.com/2010/06/biografia-pe-correa.html.
Acesso em: jul./2018.
Biografia do Pe. João
José de Castro. Disponível em: http://professorfranciscomello.blogspot.com/2010/08/biografia-do-padre-joao-jose-de-castro.html.
Acesso em: jul./2018.
Livro de Tombo da
Paróquia de Ipueiras, nº 1. Pe. Angelim e Morte do Pe.
Angelim. Ipueiras, 1933.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
ASSEMBLEIA
LEGISLATIVA DO ESTADO DO CEARÁ. Os
clérigos católicos na Assembleia Provincial do Ceará (1834-1889).
Fortaleza: INESP, 2008.
Marcos Augusto de
Freitas Costa
Licenciado
em História pela Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA. Agente de Pastoral
na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, Ipueiras/CE.