É preciso
sair da floresta do consumismo com os próprios pés, e não porque os outros nos
obrigam a sair
Frei Patrício Sciadini, OCD
Fiz
uma pequena viagem à Espanha e Itália, na busca de ajuda para nossas obras no Egito.
Temos dois hospitais e uma pequena escola – é a única maneira, neste país, para
poder evangelizar e fazer o bem, dando assim testemunho do nosso ser cristão.
Mas
as nossas obras devem ser as melhores. Os pobres merecem o melhor; seja no
atendimento, seja na acolhida, devem sentir em todos os momentos que os amamos
de verdade. Aos pobres não se pode jamais dar o que não serve, o que é
supérfluo, mas aquilo que nos faz falta.
Quando
damos com amor nada nos faz falta, tudo sobra. Assim é Deus conosco: ele doa e
nunca lhe faz falta o que doa. Perdi a minha mala e fiquei sem nada. E me senti
feliz em poder experimentar que é necessário tão pouco para ser feliz. Uma
camisa emprestada, uma calça dada por alguém que tem meu tamanho, um sabonete
sempre se encontra e, visto que tenho barba, não necessito de gilete.
Nesta
situação, dá pra meditar e encontrei o segredo da felicidade. Queria
compartilhar com os meus vinte e cinco leitores este segredo, e pode ser que
eles não concordem comigo e, que digam besteiras, mas sei que serei perdoado.
Hoje
nós somos dominados pela economia, pelo ter sempre mais e mais. E isto nos dá
uma ânsia terrível. Quando nos falta alguma coisa, nos encontramos como
perdidos, sem saber o que fazer. A felicidade consiste em saber viver não
procurando ganhar sempre mais, nem trabalhar sempre para poder gastar mais.
Trabalhar mais para comprar mais, e por aí vai. É um círculo, que não sei se é
vicioso, mas que nos estrangula e sufoca de todo lado. Perdemos a liberdade de
contentar-nos com o pouco que é suficiente.
Para
que ter vários pares de sapato quando nunca é possível usá-los ao mesmo tempo,
porque temos somente dois pés? Para que ter vinte canetas quando se escreve com
uma só? E para que desejar três telefones celulares quando se usa um por vez?
É
preciso sair desta floresta do consumismo com os próprios pés, e não porque os
outros nos obrigam a sair. Somente assim podemos compreender o texto do
Evangelho. Meditei bastante o texto do Evangelho de Mateus 6, 28: “Olhai os
lírios do campo e as aves do céu..., não semeiam, não fiam, não tecem, o Pai
cuida deles”.
Jesus
veio para nos ensinar uma coisa simples, transparente: não acumulem tesouros
sobre a terra, que a ferrugem pode corroer; é para acumular tesouros no céu,
onda a ferrugem não chega. Passei um tempo na escuta dos outros, dando espaço
às palavras, e vendo com os olhos do coração o mundo ao meu redor, e compreendi
que a infelicidade não está em não ter, mas em ter demasiado. Se cada um tomar
consciência do necessário e repartir com os que não têm, encontrará a
felicidade.
Dizia-me
uma pessoa: “Estou feliz porque agora trabalho meio período”. E eu respondi:
“Quem bom! Assim você pode descansar”. Ele me respondeu: “Descansar nada! Assim
posso ter outro trabalho e ganhar mais para comprar mais coisas”. Moral da
história: era feliz porque trabalharia mais.
Sou
feliz porque me esforço cada dia em poder viver com pouco e ver se ajudo os
outros a terem o pouco necessário para serem felizes. Por isso decidi não dar
coisas inúteis de presente, mas somente coisas úteis, e que vejo que eles não
têm. Só através da nova cultura de quem diz “não” ao luxo, ao supérfluo, e diz
“sim” somente ao necessário, podemos encontrar a comunhão da felicidade e da
alegria.
Penso
na casa de Nazaré, onde havia pouco de coisas, mas havia muito de Deus e de
felicidade.
Fonte: Jornal O Lutador, Ed. nº 3848 –
1 a 10 de setembro de 2014
👏👏👏
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